Por que tudo é política?
Já
escrevi aqui mesmo sobre política, e mais especificamente sobre votações,
porque esses movimentos populares sempre são, pelo menos para mim, inspiradores.
Gosto de observar as engrenagens ocultas (ou seriam apenas fantasias minhas?)
que movem todo esse circo, no bom sentido, e fazer paralelismos coma nossa vidinha
tão feijão com arroz.
Gosto
de pensar que também nós nos oferecemos às eleições
todos os dias. Também agimos como os políticos profissionais e semi-profissionais
(mas que aprendem rapidinho); também nos frustramos quando perdemos uma
eleição, seja ela ao coração da pessoa amada, seja
no círculo de amizades do sujeito que faz aqueles churrascos fantásticos
e que não nos convida mais. Nós nem percebemos, mas estamos quase
constantemente em campanha.
Você
reclama que todo político é um ator ou atriz? E você? Imagine
que uma câmera oculta está lhe seguindo. O que você veria depois
no filme da sua campanha? Sorrisos sinceros? Expressões autênticas
de suas Emoções e de seus sentimentos? Alguém que de forma
natural só fala a verdade, não omite nada, é verdadeiro em
cada gesto, mesmo quando pega a criança do patrão no colo? Claro
que não. E se tivéssemos uma outra câmera, mais avançada
ainda que pudesse gravar todos os seus pensamentos? Pense nisso. Você ganharia
as eleições para o que quer que fosse, se fossem exibidas em horário
nobre os seus mais recônditos pensamentos? Acho que não, nem eu.
A
vida em sociedade nos leva a esses artificiosismos, a essas falsificações
sutis ou grosseiras de nossos verdadeiros Eus, e tudo isso porque desejamos sempre
algo, vender algo, comprar algo, nos eleger para algum "cargo" , conquistar
algum tipo de poder. Como dizem os budistas, o desejo está na raiz de todos
os males de todas as falsificações. Quando vejo um político
moderno indo no botequim para tomar um café com a plebe, ou pegar uma criancinha
no colo e sorrir para a câmera, e todo aquele povão ao seu redor
sorrir satisfeito (ou seria sastifeito?) vejo uma situação arquetípica,
uma cena velha, requentada de uma peça chamada "me engana que eu gosto."
Talvez essa peça devesse chamar-se: "me engana porque eu preciso disso
para me sentir menos enganado".
Todos
somos enganadores e fingidores no nosso dia-a-dia. Por isso não apedrejamos
os políticos mais corruptos, mais falsos, mais enganadores, porque eles
são o nosso reflexo. Como poderíamos enforcar os políticos
falsos e enganadores, sem que nos sentíssemos na obrigação
de colocar o nosso pescocinho na corda? Há sim, já sei, você
vai dizer que está fora dessa, que é sincero, verdadeiro e honesto
até o último fio de cabelo. Bem aí então teremos que
passar a uma instância superior. Nada de câmeras, nadas de microfones
ocultos, nada de escuta autorizada ou não pela justiça. Vamos passar
você para a instância divina. Entregá-lo, bem como sua integridade
incorruptível, ao julgamento do Logos universal, e deixemos que o imponderável,
o inacessível, o transcendental faça o julgamento e o eleja ou não.
A sua vida, os seus terrores, tremores suas alegrias ou abismos serão a
manifestação do resultado das urnas celestes.
Mas
não se iluda achando que será feito um julgamento moral. Não
o Logos universal, Deus, ou seja lá que nome a sua limitação
cultural lhe dê, não julga com esses parâmetros tão
limitados. Quais são os parâmetros então? Perguntará
você já acreditando (por prudência ou temor) que eu sei das
coisas. Não sei justamente nessa aula onde isso seria revelado tive de
faltar. Mas posso lhe dar uma dica, apenas porque ouvi um galo cantar ao longe:
não serão eleitos os "malandros" e os "espertos",
não serão eleitos os "cruéis" e os "injustos",
nem todos aqueles que agem covardemente contra os mais fracos e mais ingênuos.
O resto... bem o resto, como já disse, ficou na aula que faltei justamente
para levar meu cachorro doente ao veterinário. Mas se depois disso tudo
você ainda for candidato, me escreva me passe o seu número, pode
contar com o meu voto.
*Exotérico:
comum, vulgar, trivial
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