Obituário de Benedita
da Conceição
10 de abril de 1916
16 de abril de 2022
106 anos. A mais
longeva de todos os senadorsaenses.
O ano era, mais ou menos, 1990. Eu tinha por volta de 6 ou 7
anos de idade. Lembro de minha avó Marieta (1931-1992), me pegando pela mão e,
percorrendo as ruas de Senador Sá, parou defronte uma casa de taipa. Da
soleira, bateu palmas e chamou: "Oh, de casa!". Não demorou muito,
saiu uma senhora que apesar de seus já 74 anos, tinha um andar firme e muita
vitalidade.
Minha avó pediu que rezasse em mim, pois eu estava
esmurecido e parecia ter sintomas de quebranto ou espinhela caída.
Foi assim que conheci D. Benedita, a rezadeira.
Visitar D. Benedita em algumas de minhas viagens à minha
querida Senador Sá representava, entre tantas sensações, experimentar o déjà vu daquele primeiro encontro. Era
estabelecer uma ponte sobrenatural entre eu e minha querida avó Marieta que
morreu precocemente, cerca de dois anos após aquela ocasião.
D. Benedita representa um valor muito maior que a minha
experiência individual. Sua vida carrega uma importância cultural inefável para
a nossa comunidade. Dias atrás falava com um amigo sobre os símbolos de Senador
Sá. Falávamos de pessoas como D. Benedita, pessoas cujas identidades estão
marcadas pelo o que eu denomino de senadorsalidade, uma essência que faz de
Senador Sá uma cidade cujo valor só pode ser conhecido por quem imerge nessa
essência.
D. Benedita, à maneira de uma xamã, dedicou uma vida inteira
à reza de cura. Sua casa exalava um ar onde o sagrado tangenciava o plano
material representado nas centenas de fitas amarradas às imagens de seus santos
deixadas pelos devotos que tinham suas graças alcançadas.
D. Benedita representa para nós, senadorsaenses, todas as
virtudes que só em uma vida longa, poderemos conhecer e experimentar:
sabedoria, humildade, decência, compaixão…
D. Benedita morreu aos 106 anos, e será sempre lembrada nas
narrativas que contarão, entre outros atributos, sobre sua alta longevidade.
D. Benedita morreu e, como uma grande matriarca que, sempre
atenta aos seus filhos, cujas dores do corpo ou espírito tratou com suas rezas,
nos deixará em longeva saudade.
D. Benedita, dos senadorsaenses, nosso muito obrigado por
tudo o que fez e por tudo o que significa. Deste que escreve, muito obrigado
pelas lembranças que, de tão vivas, se dão aos sentidos tal como um banho
refrescante em águas correntes.
Descanse em paz.
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